quarta-feira, 16 de junho de 2010

ESTRÉIA - DIA 03 DE JULHO DE 2010

O CINECLUBE LATINOAMÉRICA, estréia com um singular olhar. O de Santiago Álvarez, documentarista cubano. Latinoamericano, cidadão de nuestra América!


UM POUCO SOBRE SANTIAGO


"Não creio no cinema pré-concebido. Não creio no cinema para a posteridade. A natureza social do cinema demanda uma maior responsabilidade por parte do cineasta. É urgência do Terceiro Mundo. Essa impaciência criadora do artista, produzirá a arte dessa época, a arte da vida de dois terços da população mundial". Santiago Alvarez in Cine Cubano, n. 54-55, 1969


Santiago Alvarez nasceu no dia 8 de março de 1919 em Habana Velha, Cuba. Estudou medicina durante dois anos e nunca terminou. Em 1938 foi para os EUA tentar fortuna e lá teve a vivência que o levaria para o cinema. Segundo ele: "foi uma grande lição e experiência de vida. Pude ver o que significava de verdade os EUA para mim, para o povo cubano e para o povo americano. Depois que voltei dos EUA, tornei-me comunista". A radicalização política de Santiago Alvarez foi o maior saldo de sua odisséia norte-americana. Ele mesmo chegaria a afirmar que se fez marxista-leninista nos EUA por volta de 1940.

Após seu regresso a Cuba, matriculou-se no curso livre de Filosofia da Faculdade de Filosofia e Letras. Em seguida, junto aos companheiros Alfredo Guevara, Júlio Garcia Espinosa, Álvaro Alonso, Leo Brouwer, entre outros, fundou a Sociedade Cultural Nosso Tempo. Uma sociedade que, sem exagero, construiu o alicerce da política cultural da Revolução de 1959.
Santiago Alvarez estreou no cinema aos 40 anos de idade. Sua obra fílmica destaca-se de pronto por sua amplitude. Foram cerca de 600 cinejornais, 96 filmes e 3 vídeos, composto primordialmente de documentários mas também de títulos de ficção (Os refugiados na Cova do Morto) e de animação (Os Dragões de Ha-Long!).
Na obra de Santiago Alvarez é possível reconhecer, entre outros, o compromisso cinejornalístico revolucionário de Jorís Ivens e Roman Karmen, a ênfase na montagem e o recurso a intertítulos de Vertov, a combinação das mais variadas técnicas e materiais imagéticos de Cris Marker, a recusa à narração off e o experimentalismo sonoro de Peleshian. O estilo de Santiago Alvarez combina isso tudo e algo mais.

Na esfera visual, ele recorre sem qualquer hierarquização e pudor a tudo que tem a mão para ordenar seu discurso fílmico. A mesma estratégia se aplica a construção sonora e musical de seus filmes. No mais das vezes, os filmes de Santiago Alvarez articulam em sua banda musical trilhas especialmente compostas, música clássica, pop, canções de protesto, composições tipicamente nacionais e variantes em torno delas, repetindo em nível sonoro o aspecto de colagem do campo imagético.
"A razão para tanta inventividade é a necessidade", reconhece o próprio cineasta, que confessa jamais escrever roteiros para seus documentários. Sendo que, segundo ele, o definitivo se dá na sala de montagem. O roteiro é produzido de verdade na sala de montagem.Para Alvarez, a realidade no cinema não se capta, mas sim se constrói: "Gosto mais do filme documentário, pois para mim a realidade é uma ficção constante. Gosto de filmar e elaborar, a mim me interessa registrar e participar dessa realidade".

Extraido do livro "O Olho da Revolução: O Cinema Urgente de Santiago Alvarez", de Amir Labaki (Editora Iluminuras, 1994).

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